Roteiro da professora Liliane - 3ºA,B,C,D Língua Portuguesa e Literatura
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Observação:
Este roteiro de atividades vale 6 aulas de 45 minutos, ou seja, duas semanas de
aulas à distância de 45 minutos.
MANIPULANDO O TEMPO
Isto será a eternidade:
Um incessante subir de escadas.
E sempre estarás no começo da escadaria,
muito embora todos os dias sejam degraus.
Lêdo Ivo
Veja a reflexão que o escritor
italiano Umberto Eco faz sobre o ato de narrar.
“Entendo que para contar é
necessário primeiramente construir um mundo, o mais mobiliado possível, até os
últimos pormenores. Constrói-se um rio,
duas margens, e na margem esquerda coloca-se um pescador, e se esse pescador
possui um temperamento agressivo e uma folha penal pouco limpa, pronto: pode-se
começar a escrever, traduzindo em palavras o que não pode deixar de acontecer”.
O escritor quer dizer que para
criar uma boa narrativa não se pode deixar passar nem um detalhe. Todo o texto
narrativo conta um fato que se passa em determinado tempo e lugar. A narração só
existe na medida em que há ação; esta ação é praticada pelos personagens.
Um fato, em geral, acontece por uma determinada causa e desenrola-se envolvendo
certas circunstâncias que o caracterizam. É necessário, portanto, mencionar o
modo como tudo aconteceu detalhadamente, isto é, de que maneira o fato ocorreu.
Um acontecimento pode provocar consequências, as quais devem ser observadas.
O TEMPO NAS NARRATIVAS:
Toda narrativa desenrola-se dentro do
fluxo do tempo, tanto no plano da diegese (narração), quanto no discurso; pois
este se organiza como sucessão de palavras e frases, que podem apresentar os
fatos cronologicamente ou não.
São indicadores textuais do tempo
cronológico da diegese as referências a dias, meses, horas, anos, ao ritmo das
estações ou a uma determinada época.
Você vai ler um trecho de um dos
contos do livro “A Noite na Taverna”, do escritor brasileiro Álvares de
Azevedo:
Era
Eu me
encostei à aresta de um palácio. A visão desapareceu no escuro da janela... e
daí um canto se derramava. Não era só uma voz melodiosa: havia naquele cantar
um como choro de frenesi, um como gemer de insânia: aquela voz era sombria como
a do vento à noite nos cemitérios cantando a nênia das flores murchas da morte.
Depois, o
canto calou-se. A mulher apareceu na porta. Parecia espreitar se havia alguém
nas ruas. Não viu ninguém: saiu. Eu segui-a. A noite ia cada vez mais alta: a
lua sumira-se no céu e a chuva caía às gotas pesadas: apenas eu sentia nas
faces caírem grossas lágrimas de água, como sobre um túmulo prantos do
órfão. Andamos longo tempo pelo
labirinto das ruas: enfim, ela parou; estávamos num campo.
Aqui, ali,
além, eram cruzes que se erguiam entre o ervaçal. Ela ajoelhou-se. Parecia
soluçar: em torno dela passavam as aves da noite. Não sei se adormeci: sei,
apenas, que quando amanheceu achei-me a sós no cemitério. Contudo, a criatura
pálida não fora uma ilusão: as urzes, as cicutas do campo-santo estavam
quebradas junto a uma cruz.
1) Ao terminar de ler esse trecho
do conto, qual foi sua impressão sobre o tempo da narração:
( ) o tempo permaneceu estático, não houve
mudança de tempo cronológico;
( ) foi possível perceber uma mudança no
tempo cronológico;
2) Se a sua resposta foi a
segunda alternativa, identifique no texto pelo menos duas passagens que
apresentem indicadores textuais de tempo para justificar sua resposta. Comente
sobre elas:
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De um modo
geral, nas narrativas o tempo verbal utilizado é o passado, porém o narrador
pode fazer mudanças entre o pretérito perfeito do indicativo (expressando a
ideia de calmaria ou continuidade) e o pretérito imperfeito do indicativo
(expressando uma quebra da calmaria para dar início a uma situação de conflito
ou ação).
3) Releia o primeiro parágrafo do conto de Álvares de
Azevedo e responda:
a) quais os verbos usados pelo narrador para expressar a
ideia de calmaria?
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b) quais verbos são introduzidos para expressar a ideia de
que algo vai acontecer?
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Nas
narrativas de RPG, que como o próprio nome já diz, pertencem a ordem do narrar,
o narrador pode optar em começar narrando um fato no passado (quando está
compondo o perfil da personagem) ou no presente (quando está compondo a
situação de conflito, que o participante terá que agir).
Você lerá um trecho de uma narrativa de RPG, a qual foi
escolhida entre as vencedoras da promoção Vampiros: Criaturas da Noite,
realizada pela editora Devir e pelo Portal RPG Online.
Vampiros: Criaturas da noite
A
noite está fria e úmida, o céu está nublado como é bastante comum nos fim de
semanas. Mesmo antes eu costumava atentar para esse fato, Juiz de Fora costuma
ter seus fins de semana nublados e chuvosos, como se durante a semana as nuvens
tivessem dificuldade de subir a serra.
Estou
num ônibus rumando para centro, mais precisamente para o parque Halfed, não
deve levar muito tempo para chegar lá, mas esse trajeto sempre me causa
nostalgia, como quando eu costumava vir visitar amigos ou pegar um cineminha,
ainda me lembro do dia que vim com minha família ver Guerra nas Estrelas
Episódio III, foi um fim trágico o do Anakin e isso sempre me lembra que não
importa seu talento a arrogância e a prepotência sempre poderam te derrubar.
Já
são 22:23 eu estou atrasado, já devia estar lá há quase 15 minutos, mas de que
adianta a pressa, o busão não vai mais rápido, eu costumava gritar para o
motorista “bora moto essa banheira anda ou não” mas isso era antes, hoje eu sou
mais paciente descobri que certas coisas são como são e acelerar alguns processos
pode trazer repercussões sérias.
Mas
não demorou tanto assim, são 22:37 e eu estou bem aqui, onde tudo começou, não
é incrível como a vida é um conjunto de ciclos sucessivos, cinco anos atrás eu
jamais teria feito essa afirmação nem mesmo entenderia seu real significado.
Melhor eu procurar um abrigo ou ficarei ensopado, acho que ficarei sob uma
dessas árvores, não que isso me incomode, não mais. Agora só me resta esperar,
está tudo como deviria estar, e bem, se me perguntarem alguma coisa direi que
estamos esperando uma pessoa, o que não deixa de ser verdade.
É,
eu realmente ando nostálgico, tragicamente nostálgico. Há 12 semanas atrás, eu
estava aqui, pensando na prova que eu teria na segunda, estava louco para
voltar para casa, o frio estava me matando, e o sábado era a mesma porcaria
chuvosa que hoje.
Hmm
23:03 e ele ainda não deu as caras por aqui, mas eu sou paciente, está tudo
como deveria estar, mais cedo ou mais tarde ele vai aparecer para conduzir
algum incauto até a travessa Joaquim do Nascimento exatamente como ele fez
comigo. Eu sei o que você esta pensando e a resposta é não, não tenho nenhuma
ligação ou parentesco de nenhuma ordem com ele, somente um assunto inacabado.
1) Qual foi a escolha de tempo utilizada pelo narrador para
iniciar a narrativa?
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2) Como você justificaria sua resposta na questão anterior?
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3) Nesse início de narrativa de RPG, percebemos claramente o
tempo cronológico. Destaque frases que apresente os indicadores textuais de
tempo relacionados ao momento da narração (se necessário, releia o texto):
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Nas narrativas, é impossível uma coincidência perfeita entre o desenrolar cronológico da narração e a sucessão dos acontecimentos no discurso. Ao desencontro entre esse dois tempos denominamos anacronias. O narrador pode construir o discurso a partir do desfecho da narração, tendo que, para isso, recuar no tempo utilizando o recurso chamado de flashback.
1) No trecho da narrativa de RPG lido anteriormente, o
narrador faz uso do recurso de flashback?
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2) Considerando-se que você respondeu afirmativamente a
pergunta anterior, identifique no trecho lido pelo menos duas frases que
justifiquem sua resposta:
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Nas narrativas, podemos observar estratégias utilizadas pelos autores para diferenciar a duração do tempo, aumentando ou diminuindo a velocidade da narração: os resumos e as elipses (exclusão de determinados acontecimentos) aceleram a narrativa, enquanto as descrições minuciosas e as digressões (comentários paralelos) retardam a narrativa.
No trecho da narrativa “Vampiros: criaturas da noite” é
possível perceber a predominância de algumas dessas estratégias? Apenas comente
sua resposta:
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Você ficou curioso para saber o que acontece na narrativa
“Vampiros: Criaturas da Noite”?
(o início de narrativa que você leu está no 3º lugar no
concurso) - CONCURSO de 2011 na web.
Nas narrativas, é importante observarmos também a construção do tempo psicológico da narração (da dor, da espera, da angústia...). Pode-se, por exemplo, narrar em muitas páginas o que tenha ocorrido em poucos minutos, o que permitiria ao leitor a percepção do tempo interior. Para tanto, um dos recursos bastante utilizados nas narrativas contemporâneas é o monólogo interior. Este, como todo monólogo, não tem intervenções e se diferencia do monólogo tradicional por apresentar o que há na personagem de mais íntimo, mais próximo do inconsciente e, portanto, sem uma organização lógica. Estaria muito próximo ao que em psicologia denomina-se fluxo de consciência. É um monólogo não pronunciado, que se desenvolve no íntimo da personagem, muitas vezes, constitui-se como um discurso desordenado, bastante livre de regras gramaticais e de pontuação
Leia atentamente um trecho do romance “Perto do coração
selvagem” de Clarice Lispector. Observe como a autora utiliza o tempo
psicológico:
“Deus meu, eu
vos espero. Deus, vinde a mim. Deus, brotai no meu peito, eu não sou nada e a
desgraça cai sobre minha cabeça e eu só sei usar palavras e as palavras são
mentirosas e eu continuo a sofrer, afinal o fio sobre a parede escura. Deus
vinde a mim e não tenho alegria e minha vida é escura como a noite sem estrelas
e, Deus, por que não existes dentro de mim? por que me fizeste separada de ti?
Deus, vinde a mim, eu não sou nada, eu sou menos que o pó e eu te espero todos
os dias e todas as noites, ajudai-me, eu só tenho uma vida e essa vida escorre
pelos meus dedos e encaminha-se para a morte serenamente e eu nada posso fazer
e apenas assisto ao meu esgotamento em cada minuto que passa, sou só no mundo,
quem me quer não me conhece, quem me conhece me teme e eu sou pequena e pobre,
não saberei que existi daqui a poucos anos, o que me resta para viver é pouco e
o que me resta para viver no entanto continuará intocado e inútil, por que não
te apiedas de mim, que não sou nada? dai-me o que preciso. Deus, dai-me o que
preciso e não sei o que seja, minha desolação é funda como um poço e eu não me
engano diante de mim e das pessoas, vinde a mim na desgraça e a desgraça é
hoje, a desgraça é sempre, beijo teus pés e o pó dos teus pés, quero me
dissolver em lágrimas, das profundezas chamo por vós, vinde em meu auxílio que
eu não tenho pecados, das profundezas chamo por vós e nada responde e meu
desespero é seco como as areias do deserto e minha perplexidade me sufoca,
humilha-me, Deus, esse orgulho de viver me amordaça, eu não sou nada, das
profundezas chamo por vós, das profundezas chamo por vós, das profundezas chamo
por vós, das profundezas chamo por vós...”
1) Com base na teoria apresentada
antes do trecho do romance, quais elementos foram usados pelo narrador para que
possamos considerar esse trecho do livro como um monólogo interior (fluxo de
consciência)?
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2) Quais palavras você utilizaria
para descrever os sentimentos da personagem?
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A seguir, você vai ler uma
narrativa de RPG extraída do livro “Vampiro: a Máscara”.
LIVRO DOIS: A QUEDA
As corujas me chamam, por detrás dessas paredes
desgastadas. Posso me mover, mas só um pouco. Posso me arrastar por sobre a
poeira até a boca da cabana, e talvez até mais além. Mas não posso correr.
Estou fraco e cansado demais para fazê-lo.
Numa taverna de beira de estrada, eu
pensei em passar uma noite agradável com uma bebida e uma mulher barata. Fui
bem recebido quando entrei, com a mão na espada como se preferisse lutar a
beber. Um grupo de desconhecidos, não muito distantes do fogo, pediram que me
juntasse a eles, e riram comigo, enquanto enchiam minha caneca. Eu saí com eles
alegremente, segurando a mão gélida de uma de suas mulheres.
Eles me jogaram contra a parede do
beco. Tomaram-me a espada, quebrando-a em dez pedaços. Eles riram quando meus
músculos anestesiados pelo álcool me jogaram desastradamente sobre eles, e
então arrancaram minha carne, expondo minhas veias. Eu tentei gritar. Eu
deveria ter morrido, mas enquanto os demônios se embrenhavam novamente nas
sombras, as mãos de um deles me levantavam. Eu vi a misericórdia na face de um
monstro, e Deus me livre, eu me alegro com isso.
Ela
me escondeu numa cabana a milhas de distância da cidade. Estou fraco demais
para partir – meu desamparo se reflete em seus olhos quando ela vem me ver. Ela
me toca como alguém faria com uma criança tola, me diz coisas sombrias sobre
mim. Por vezes ela me traz uma lebre, ou algumas perdizes. O bastante para me
manter vivo, apesar de não sentir fome. Mas ó Deus, a minha sede, a minha
sede... Meu sangue escorre em minhas lágrimas, pingando sobre a poeira.
1) Na narrativa lida, é possível
identificar o tempo psicológico?
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2) Se você respondeu
afirmativamente a pergunta anterior, quais frases do texto você usaria para
justificar sua resposta?
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3) Quais adjetivos você
utilizaria para descrever os sentimentos da personagem e quais frases você
usaria para justificar sua escolha?
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CRÉDITOS: Aninha - UNICASTELO
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